sábado, 17 de abril de 2010

No Dia da Cirurgia


Fui operado pelo Dr. Roberto Marziale, no Hospital São Lucas, em Ribeirão Preto, as 11 horas da manhã do dia 9 de Abril de 2010.
Cheguei ao Hospital São Lucas muito tranquilo, de fato não tinha medo nenhum da cirurgia e estava muito confiante. Queria muito que a cirurgia fosse feita o mais rápido possível. Assim que cheguei, aguardei a parte burocrática e logo fui encaminhado até o centro cirúrgico, onde coloquei a camisola do hospital, um roupão e uma touca. Fiquei esperando no corredor, junto com minha mãe.

- Vamos que os gordinhos não podem esperar - entra o Dr. Roberto Marziale no corredor e em seguida me chama para a sala.
- Vamos lá, meu querido? - disse o anestesista enquanto começava a me acomodar sobre a mesa de cirurgia. - Quem fez a sua avaliação pré-anestésica? - perguntou.
- Acho que foi o Dr. Fábio - respondi
- Aquele japonês que rebola?
- Ele mesmo - disse eu, participando da brincadeira entre colegas feita pelo anestesista. De cara já percebi que o cara era um palhaço.
- A sua cirurgia é mudança de sexo né? - disse o anesista brincalhão - Já escolheu seu novo nome?
- Já sim. Ludmila.
- Bonito nome - disse o piadista.
Realmente estava muito confiante com o procedimento. Sabia da competência do Dr. Marziale. Nas outras cirurgias que fiz, tive uma experiência meio traumática com a anestesia, pois eram aplicadas na medula espinhal e causavam um desconforto horrível na hora da aplicação. Dessa vez estava tranquilo porque sabia que a anestesia era aplicada diretamente na veia junto com o soro. Então, quando o anestesista perguntou: - Agora você vai sentir uma forte sonolência - só tive tempo de fazer uma última piadinha um tanto mórbida: - Então, a partir de agora se eu não voltar mais é alguma coisa deu errado?

- Pronto, Ludmila, a cirurgia terminou - Ouvi a voz do anestesista. Ainda muito grogue, devo ter rido da piada do brincalhão.
- Mas já? Eu acordei sozinho ou vocês me deram alguma coisa pra eu acordar? - Disse eu, enquanto sentia alguns homens me removendo da mesa de cirurgia para a maca. Sabia que a cirurgia tinha acabado há alguns intantes. Minha dúvida era pertinente, fiquei imaginando se eu tinha acordado exatamente naquele momento, haveria a chance de eu ter acordado no meio da cirurgia? Bom, fiquei com essa dúvida no ar. Mas, antes de apagar novamente, a caminho da sala de recuperação fiz a última piadinhha:
- Pede pra me trazerem uma pizza de mussarela de búfala com tomate seco? - Talvez tenha arrancado alguns risos da equipe.

Só acordei novamente na sala de recuperação. Já não era mais só tranquilidade, como algumas horas atrás. Toda minha confiança abalara-se com as dores que sentia. Na verdade, eu sabia que sentiria essas dores, mas a minha confiança era tão grande que tinha esquecido dessa possibilidade.
As horas passavam, e ainda continuava na sala de recuperação. Mantive-me calmo, apesar das dores e da demora. Aos poucos, comecei a perceber, que já não devia mais estar naquela sala. Já não estava mais sobre efeito da anestesia e conforme o tempo passava, me preocupava com minha família, onde eles estavam, se já tinham notícias minhas. Comecei a notar pelos comentários dos enfermeiros que talvez a demora para me transferirem fosse por falta de leitos. E realmente foi o que aconteceu. Perto das 8 da noite, o enfermeiro veio para me transferir. Até aquele momento estava numa caminha bem estreita, em que as grades encostavam nos braços de ambos os lados, parecendo uma mini-prisão. Perguntei ao enfermeiro: " Vou para o quarto?" - ele respondeu evasivamente: "Sim, vou lhe arrumar uma cama melhor pra você descansar bem essa noite". Me levaram para uma sala chamada de isolamento, que ficava anexa à recuperação.

Minha mãe ficou indignada com essa situação, por falta de leito, acabei tendo que passar a noite improvisado em um cantinho da sala de recuperação. Mas, em compensação o atendimento e a atenção que me foi dada pelos enfermeiros da recuperação, nos fizeram esquecer essa situação.
Essa noite foi terrível. Não consegui pregar o olho por mais de 5 minutos consecutivamente. Cuspia uma secreção que vinha direto do estômago, uma mistura de saliva com sangue, durante a noite toda. Sujei umas 15 toalhas do hospital com essa secreção. Além disso, a posição não era das mais confortáveis para dormir. Eu que estou acostumado a dormir de bruços sofri muito pra dormir de barriga pra cima.
As dores eram controladas por medicação, mas ainda assim, não dá pra dizer que não doia nada.
Minha mãe. Coitada! Também não dormiu a noite inteira. Eu a chamava a cada 5 minutos. Quando dava um tempinho de folga, ela tentava descansar em um sofazinho minusculo que tinha na salinha.

A manhã chegou. O resto da história, contarei em outro post. Mas, queria lembrar que nesse primeiro dia, durante a noite, teve um único momento em que senti um certo arrependimento de ter feito a cirurgia. Mas juro que foi algo momentâneo. Até agora está valendo a pena cada sufoco e gemido por que passei

Léo Castro

6 comentários:

  1. Força Leleco....... e logo logo de volta a sanca...!!!!!

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  2. Caraca Léo.. parabéns velho!! Haja coragem...!!
    Força velho... e melhoras!!!
    Fique com Deus!!
    Abraço forte leozera!!

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  3. Nossa foi o Dr Marziale que fez sua cirurgia?? Ele tb fez da minha madrinha... o cara é fera!
    Imagino o q vc passou Léo, nos primeiros dias ajudei a cuidar da minha madrinha e sofri junto com ela. Se eu soubesse q vc ia fzr a cirurgia, ja tinha me candidatado a enfermeira, to craque! ahueuheua... Mas vale a pena... Beijos querido

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  4. Ri e chorei com estes primeiros dias...vc é um excelente escritor, palhaço e lutador...escreve um livro por favor? kk bjos.

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  5. a tua historia e a de mais alguns que li tem me encorajado a fazer a cirurgia, pois estou deprimida e ja nao tenho mais alto estima. obrigada

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  6. Bom nem sei se você vai ver este post mais vou fazer a cirurgia com o Dr Roberto Marzialle Já estou fazendo todos os exames pré operatório mais estou com essa confiança ainda mais agora lendo seu relato...

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