quinta-feira, 29 de abril de 2010

Crianças gordas e suas gordices infantis nem sempre tão inocentes.

"Só pra avisar ao leitor, decidi que a dinâmica desse blog será a publicação de crônicas, portanto não se assustem com os longos textos. Mas garanto que todos as crônicas terão relação com a obesidade e com a minha convivência com essa "deficiência física ou excesso delas", como algum dia alguém me falou na tentativa de eufemizar o termo obesidade. rsrs. Mas ainda continuarei dando algumas dicas e publicando o meu acompanhamento médico e de perda de peso. É isso. Fiquem com esse texto que eu, particularmente, achei muito bom. Hey, modestia."   


    Sempre fui obeso, desde criança. Apesar de ter sido uma criança ativa e até certo ponto ágil, a obesidade me atrapalhava em diversos aspectos:  físicos, mas principalmente sociais. Minha turminha da escolinha nunca era a mais popular, mas eu tinha muitos amiguinhos e transitava entre todas as turmas. Apesar disso eu tinha uma timidez latente que se externava sempre que a obesidade se tornava algum tipo de empecilho social. Pra exemplificar, quando tentava me enturmar e alguma criança de cara já ressaltava minha volumosa característica mais marcante, já era. Eu travava.
Mas mesmo assim, não era uma criança impopular. Transitava entre diversos grupos, respeitava e tinha o respeito da maioria, a não ser de alguns babacas que parecem que nasceram idiotas e morrerão idiotas, os carinhas que só sabiam fazer os outros rirem as custas dos defeitos dos outros. Você já deve ter conhecido alguém assim. Mas eu até levava na esportiva essas coisas, mas no fundo aquilo me incomodava e me afundava em minha fossa gordurosa de defeitos e incompetências. Talvez fosse o princípio de um depressão infantil. Mas não tenho conhecimento pra discutir isso agora.
    Fato é que minha "semipopularidade" era adquirida ao longo do tempo pelo respeito dos meus coleguinhas. Tinha bons amigos, me dava bem com todos (a não ser os babacas citados acima), participava das brincadeiras, fazia umas piadinhas até bacanas, tinha a confiança das professoras, fui até orador da minha formatura do pré-primário. Enfim, eu era respeitado por minha personalidade e não pelo meu carisma.
    Claro que fazia minhas artes, muitas vezes para poder impressionar os coleguinhas, algumas até meio barra pesada como partir pra cima de uma professora de quase 60 anos quando ela me disse a frase "Você não vale o quanto pesa" e ser segurado pela classe inteira pra não dar na cara dela. Me arrependo desse fato, mas não estava completamente errado. Ó, lendária Dona Hortência, professora de Geografia da EE Bruno Pieroni. Rolava um boato que ela era virgem e que era apaixonada pelo autor do livro de Geografia Melhem Adas. Ah! E tinha o inesquecível bordão: "Que dê tcheu pai?"
    Já participei até de um trote dizendo que havia uma bomba na escola - isso já no segundo colegial - detalhe, isso foi apenas algumas semanas depois do atentado de 11 de Setembro de 2001 contra o WTC, quando o mundo vivia uma forte tensão anti-terrorismo. Que trote infeliz. E o pior é que eu só dei a idéia e emprestei o celular da minha mãe - coisa rara na época - quem executou foram outros dois amigos e um deles ainda se safou. Eu fui suspenso e por muito pouco não fui expulso.
    Nessa escola do Ensino Médio em Sertãozinho, chamada Quarup, eu entrei classificado em 1° lugar no vestibulinho e ganhei uma bolsa de 60% de desconto. Vindo de escola pública, foi uma grande conquista e um ótima oportunidade de fazer um bom Ensino Médio em uma escola particular e me preparar para o vestiular, ainda em uma das escolas mais conceituadas da cidade. Se não fosse por essa bolsa eu teria continuado na escola pública. Mas então, esses 60% de desconto do primeiro ano, viraram 40% no segundo e 20% no terceiro. E não foi por causa do meu desempenho escolar, que não era o top dos tops, mas tinha notas regulares e nenhuma nota vermelha. Foi por causa da minha... digamos... indisciplina. Não que eu fosse um capeta, daqueles babacas do mal que eu disse antes, mas eu adorava causar, fazer piadinhas nas horas erradas, dormir na sala de vez em quando, incitar a bagunça durante as provas, soltar uns puns, passar tinta de caneta no apagador pro professor fazer uma lambaça na lousa quando fosse usar, ter ataques de risos com outros amigos durante uma aula, passar trote dizendo que havia uma bomba no banheiro, entre outras gordices. Os projetinhos de marmanjos se rachavam de rir, já as meninas, acho que me odeiam até hoje. Mas ainda assim eu era respeitado, fui até eleito representante de classe uma vez, mas tive que renunciar porque a minha antecessora chorou quando perdeu o cargo. Coitadinha. Mas também, esse negócio de política não é comigo.
    Foram anos em que fiz amigos que me acompanham até hoje e nos quais vivi momentos inesquecíveis e também alguns que eu gostaria de esquecer. Mas apesar da bagunça, como disse, minhas notas eram boas, não as melhores, mas eram suficientes para passar pois tinham a respeitada cor AZUL. E ainda assim, alguns professores me adoravam, emboram alguns poucos me odiassem. E eu me sentia nas nuvens quando algumas vezes meus trabalhos eram elogiados, principalmente os de Artes, Português e Redação. O Toninho, "bigode amarelo" (cá entre nós), professor de Redação, não era o meu fã número 1, as vezes me dava umas tiradas que eu ficava até tonto, mas quando fazia uma boa redação ele chegava perto de mim e com um tom meio irônico fingindo estar contrariado e desconfiado e perguntava: "Foi você mesmo quem fez isso?". Eu respondia que sim, ele mudava aquela feição meio amendrontadora e me dava os parabéns. Uma vez até ficou de publicar um dos meus textos no jornal local, mas eu nunca soube o que virou.
    No 3° Colegial formamos até a turma do Quarandirup, Bloco 2, Cela B, uma paródia do Presídio do Carandiru. Isso porque o bloco B, onde estudávamos era muito fechado e quente, não entrava sequer um raio de luz do sol. Nós do fundão assinávamos todas as redações assim, até o time da sala foi nomeado Quarandirup e foi campeão do Interclasses em 2002 - jogou a final contra o time do Juca, meu irmão, que ficou puto porque torci pro time da minha sala ao invés do time dele. O Toninho ficava bravo, mas no fundo ele achou muito legal a sacada do Quarandirup.
    Bom, chega de me auto-promover. Nessa mesma época, enquanto via meus amigos iniciando suas vidas amorosas e sexuais, eu não passava de um gordinho inteligente e as vezes engraçado. Até tinha amigas mulheres, mas do ponto de vista de um relacionamento afetivo sempre as via como objetivos inalcançáveis e nem tentava um approach mais incisivo. Até forcei uma vez me apaixonar por uma menina da sala, mas fiz isso só pra ver se vencia ela através da resistência. Eu me declarava para ela só pelo ICQ, dizia coisas tão românticas que até eu me impressionava, mas dentro da sala a gente mal cruzava olhares e quando trocávamos algumas palavras nunca era sobre o meu amor platônico. Era ridícula essa situação. E o engraçado é que depois de um tempo ela viveu um amor platônico pelo meu irmão. E anos depois pelo meu melhor amigo. Rárá. Coisas do destino.
    Querem um segredo? Já que estou escancarando tudo nesse blog, vou dizer: eu nunca havia beijado uma menina até então - menino também não viu, pra quem ainda não sabe da minha opção, eu sou heterosexual assumido efetivado tardiamente. Era BV (Boca Virgem). Era tímido PRACARALHOOO quando o assunto era mulher, apesar de demonstrar que era um cara super descolado. My first kiss rolou com 18 anos. - Ai que vergonha de admitir isso! Vergonha por que nesse aspecto eu era um tanto mentiroso, contava pros meus amigos, primos e meu irmão que era o maior pegador. Mas que nada, era um prego. Não acredito que estou revelando esse segredo, mas estou até curtindo esse "descarrego" - O nome da menina, não vou dizer para preservá-la, afinal de contas ela é uma pessoa pública e muito famosa. MENTIRA!!! Rárá. Bem, quem me conhece pode deduzir quem é.
    Mas o menino cresceu fisicamente (pra cima e para os lados, muito mais para os lados) e mentalmente, passou na faculdade, aprendeu muita coisa com a vida e.... bem, isso eu conto depois porque esse texto já tá grande pra cacete.

   Até mais, pessoal. Continuem lendo e comentem se gostarem. Se não gostarem também.



Léo Castro

6 comentários:

  1. Léozinhooooo...ainda naum fui falar com vc mas sempre q tenho um tempo passo aki pra ler...muito legal, to muito feliz por vc viu?! Toda sorte do mundo nessa sua nova fase e como vc mesmo diz Nova Vida!
    Beijossssssssssss

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  2. Que desabafo hein meu irmão?!
    Não é muita novidade para mim, que vivi tudo isso ao seu lado, ou indiretamente.
    Enfim admiro sua coragem e naturalidade para falar de si próprio.
    Pra mim isso se chama auto-conhecimento....
    Continue praticando isso, que acredito que esteja te fazendo bem.
    te amo!

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  3. Me identifiquei com muitas coisas nesse texto, de verdade.
    Aos 13 anos eu tinha 1,64m e pesava 92kg... e muitas coisas que você relatou aconteceram comigo com similaridade assustadora.
    Creio que vários problemas que enfrento hoje são reflexo dessa fase.

    Ótimo texto. Parabéns Léozão!
    Tudibão pro cê!

    Abraços

    Beraba

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  4. Mandando muito bem, Leo.. parabéns! esse post mexeu mesmo comigo, como eu já te contei eu era um desses babaca idiota que ficavam bolinando os que eu considerava mais fracos.. putz, tu nao faz ideia de como eu me arrependo. Abraço e força aí, véio! Tutu

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  5. Tb me identifiquei viu Léo... passei por isso na escola, ser o motivo de piadinhas. As vezes ainda escuto, mas agora sei me defender hehehe... força e fé...
    Beijos

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  6. Adorei o texto! Você escreve muito bem!
    Vi o seu blog pela 2ª vez através da resposta da Josy pro seu tweet...
    A 1ª vez foi quando vi seu texto se declarando e mostrei pra ela ;)

    Bjim e boa sorte no tratamento!

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