Fui para o leito as 14h do dia seguinte à cirurgia. Meu plano de saúde me dá direito somente ao quarto compartilhado com outros pacientes e sem acompanhante. Pois é, mas acredito que, na tentativa de desfazer o constrangimento da noite anterior o próprio Dr. Marziale "mexeu seus pauzinhos" e me transferiu para o apartamento 107 do Hospital, onde haviam duas camas e somente eu de paciente. Além disso, terminado o horário de visitas, ninguém veio pedir para que meu pai saísse, então ele acabou ficando comigo como acompanhante. Por fim, mesmo sem meu plano conceder esses privilégios, acabei ficando em um apartamento exclusivo com direito a acompanhante. Entretanto, na noite anterior não haviam leitos e agora eu estava em um quarto com um leito sobrando, mas já era sábado e, segundo o enfermeiro, o fluxo de internações nos fins de semana é menor.
Na manhã de sábado, ainda na recuperação, uma dos momentos mais importantes foram meus primeiros passos. O enfermeiro Sidemar - um cara simples e muito gente boa que puxava um pouco a perna quando caminhava - conseguiu me convencer a levantar da cama e me auxiliou rumo ao banheiro do quartinho pra tomar banho. Esse ato me deu muita confiança. Enquanto estava deitado, ficava imaginando a primeira vez que fosse levantar e pensava que aquele seria um momento muito doloroso. Mas, não foi. Ter levantado e tomado banho menos de 24 horas depois da cirurgia foi uma das melhores coisas que me aconteceu até aquele momento no hospital.
Quando o Dr. Marziale entrou no quarto no início da segunda noite, já no quarto 107, eu estava sentado na poltrona entre as duas camas, com os pés em um banquinho e falando ao telefone com umas amigas que haviam me ligado bêbadas de um barzinho e nem sabiam que eu estava internado, eram a Talita e Flávia, mais uma galera da CVC, onde elas trabalham. Ao entrar no quarto o médico viu aquela cena e disse:
- Hey gordo, tá parecendo um pachá ai, hein?
- Vixi, peraí! Tenho que desligar, meninas. Meu médico entrou aqui no quarto e tá com cara de bravo. - De fato o Dr. Marziale tem fama de ser meio secão, meio mala (veja na foto a cara do homem). Mas eu notei o tom de brincadeira no comentário dele. Ele parecia contente por me ver bem melhor.
Já sabia que nos dois primeiros dias após a cirurgia não poderia ingerir nada, nem mesmo água, e temia por isso. Mas, acabei nem sentindo muita sede, pois estava sendo hidratado pelo soro. De vez em quando só pedia para quem estivesse comigo no quarto pegasse uma gase e embebesse em água para molhar um pouco minha boca. Nessa noite, o Dr. Marziale me liberou para tomar água. Mas ressaltou que deveria tomar apenas 20 ml a cada 20 minutos.
O primeiro gole de água foi como uma explosão incontrolável de prazer. Sentia a água percorrendo todo o caminho desde a língua, passando pela garganta e esôfago até chegar ao meu estômago recém-mutilado.
No dia seguinte as meninas da cozinha já me trouxeram um chá e água de côco. Estava começando a primeira dieta pós-operatória: a dieta líquida.
Foram 3 dias no hospital. Passei uma noite com a minha mãe e duas com meu pai. Noites difíceis porquê tive muita dificuldade pra dormir com a barriga pra cima. Nessas noites em claro, minha grande companheira foi a TV que tinha no quarto. A presença de meus pais e de meu irmão comigo no quarto foi fundamental, não saberia o que fazer se eles não estivessem lá. Eu até conseguia me movimentar, mas precisava sempre da ajuda de alguem pra me levantar ou pra me sentar, pois naquele momento o corte ainda doia bastante.
Saí do hospital na segunda-feira pela manhã. Contente de ver a rua novamente. Feliz por chegar em casa, ver minha vózinha querida. A cada dia que passava me sentia melhor e mais feliz. Ainda não sentia a diferença de peso, mas sabia que seria uma questão de tempo.
Meu retorno estava marcado para a próxima sexta, para retirar o Dreno, a quem eu batizei de "cachorrinho" porque e ficava preso a mim como se fosse um Totó encoleirado e me acompanha pra onde quer que eu fosse.
Bom... falarei mais sobre a primeira semana em um outro post.
Léo Castro
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