segunda-feira, 7 de junho de 2010

Conto: "A Mudança"


Parte 2 - Os Primeiros Quilômetros



O motorista me orientou a ficar um tempo sentado na parte de trás do caminhão para me adaptar ao balanço causado pelas arrancadas, freadas e buracos do caminho. Os primeiros quilômetros realmente foram muito difíceis, mas como eu estava ainda extasiado pela idéia da mudança, me adaptei facilmente a toda aquela agitação. Quando me levantei fui tateando as paredes do baú do caminhão, me apoiando em alguns móveis e firmando os pés aos poucos até que fiquei completamente de pé. Logo veio um forte solavanco que me jogou para trás. Por pouco não cai sobre todas aquelas caixas, mas meus pés já estavam firmes no chão e consegui me equilibrar.
A viagem continuava. Durante as primeiras horas, percebi que o motorista mantinha uma boa velocidade. Logo pensei que se continuássemos naquele ritmo, poderíamos levar menos tempo do que eu havia imaginado para chegar ao meu novo lar. Trocava algumas poucas palavras com o motorista. Eu era responsável por indicar o caminho, mas até aquele momento nossa rota era simples, bastava indicar o sentido que o motorista nos guiava pelas melhores estradas, seguindo o fluxo dos outros carros.
Finalmente comecei a vasculhar algumas caixas com meus objetos. Decidi começar a organização pela parte que considerei mais fácil. Separei os objetos que seriam menos úteis e que não tinham tanta importância. Surpreendi-me com a grande quantidade de coisas sem importância e utilidade que acumulei durante esses anos. É claro que muitas vezes não nos damos conta da real importância que algumas coisas podem ter em nossas vidas, mas vendo aquela infinidade de coisas que juntei, percebi que até agora não havia me preocupado muito em fazer essa avaliação. A partir desse momento decidi que vou tentar avaliar melhor as minhas escolhas e dedicar menos tempo de minha nova vida a essas coisas inúteis.
A essa altura já estou mais acostumado com o balanço do caminhão, mas ainda preciso fazer muito esforço para me manter de pé. Todo esse esforço somado ao cansaço acumulado depois de dias dormindo pouco enquanto encaixotava minhas quinquilharias, ainda no meu antigo casarão, estou muito desgastado e meu corpo já não responde bem aos comandos de minha mente. Resolvi recuperar minhas energias e sentei-me em um cantinho, encostado em uma das caixas.
Embora quisesse descansar, tentava me manter acordado para orientar o motorista caso ele precisasse. Mas o cansaço falou mais alto e em poucos minutos adormeci profundamente. Sonhei com minha nova casa. Tudo era muito colorido e vivo no meu sonho, exatamente como eu imaginava. No sonho eu chegava perto da janela da casa e olhava para a rua acenando para as pessoas que passavam. As pessoas inicialmente estranhavam, mas acenavam de volta. Eu sorria o tempo todo e queria mostrar para as pessoas na rua como estava feliz naquele lugar. De repente ouço um enorme barulho e sinto um forte solavanco. Já não era mais sonho.
O forte estrondo me trouxe de volta ao baú do caminhão, onde tentava entender o que estava acontecendo.
O motorista me chamou e disse que havia passado em um buraco enorme e um pneu havia estourado. Saí de dentro do baú e minha primeira reação foi olhar a volta para ver onde estávamos. Não reconheci aquele lugar. Não sabia onde estávamos. Perguntei ao motorista se ele tinha alguma noção de onde estávamos e ele respondeu que sabia, mas não tinha certeza se era o caminho certo. Disse que havia tentado me acordar para perguntar a direção correta, mas por mais que insistisse não conseguia nenhuma resposta, então decidiu seguir viagem. De fato, havíamos nos desviado do caminho. Não podia culpar o motorista, a falha foi toda minha. Negligenciei minha tarefa de informar o caminho e por isso perdemos muito tempo de nossa viagem. Ao menos não estávamos perdidos, mas esse erro me custou muito caro.
A viagem precisava seguir em frente, já havíamos perdido muito tempo com esse desvio. Mas confesso que fiquei bastante abalado com essa falha. Que ao menos tenha servido de lição para a continuidade da viagem. Trocamos o pneu e seguimos em frente.

Continua...

Léo Castro

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