Constantei que isso não seria tão fácil no começo dessa quarta semana pós cirurgia. Normalmente me peso somente às sextas-feiras, mas dessa vez, por acaso, sai para uma caminhada com meu pai na segunda-feira e passamos pela fármacia onde estou me pesando. Quando subi na balança tomei o "choque de realidade" e naquele instante todo aquele blá blá blá do cursinho pré bariátrico fez sentido. Eu havia engordado 300 gramas em 3 dias. "Mas como? Eu estou só no primeiro mês de cirurgia, era para estar perdendo peso muito rapidamente. Nem comecei a comer sólidos ainda. Como pode acontecer?" Essas seriam as minhas dúvidas caso eu não soubesse onde eu havia errado. Mas eu sabia. Lembra da história de flexibilizar as regras? Pois então, leitor, leve isso como um conselho de "o que NÃO fazer nas primeiras semanas depois da cirurgia". Flexibilizar pelo menos um pouquinho abriu um precendente para que exageros maiores e imperdoáveis fossem cometidos. No fim de semana fui ao Shopping com minha família e me permiti pedir um prato de coalhada do Habib´s. É claro que não comi tudo sozinho, mas sem dúvida alguma comi muito mais do que os 30 ml sugeridos pela nutricionista. Além disso, durante todo o fim de semana, acabei exagerando em outras refeições. Comi bastante purê de batata e de mandioca, carboidrato puro. Em resumo, me permiti certos exageros que culminaram em uma cara de tacho olhando para os números "145,3" na balança da farmácia.
Naquele momento me dei conta de que realmente a cirurgia não faz milagre algum. Que a mudança de hábitos vai requerer muito esforço SIM. Que não será nada fácil nem natural conseguir adquirir os hábitos necessários para viver essa nova vida. E, por fim, que só depende de mim fazer com que eu possa desfrutar do que venho chamando de minha "nova vida" da melhor maneira possível.
Aí alguém poderia perguntar: "Se é necessária essa mudança de hábitos e uma reeducação alimentar, por que não fazê-los sem precisar fazer a cirurgia?"
De fato, é sim possível e muito mais indicado que essa mudança seja feita sem a necessidade de cirurgia. Mas diga isso para uma gordinho que conviveu durante muitos anos com esses excessos e que certamente pelo menos uma, duas ou dezenas de vezes já esteve diante da tentativa de fazer essa reeducação, mas no máximo conseguiu perder alguns quilinhos que logo foram achados com facilidade. Muita gente consegue com sucesso essa mudança e essas pessoas devem ser aplaudidas de pé pela força de vontade e pela garra. Infelizmente, para grande parte dos gordinhos isso é praticamente impossível, por diferentes razões e motivos.
A cirurgia, ao meu ver, faz com que o indivíduo seja forçado a se reeducar. Sim, de uma maneira radical, através de uma mutilação, mas a reeducação se faz necessária para que a pessoa possa ter uma boa qualidade de vida. Em nenhum momento dizem que isso é fácil, aliás, como foi dito no início do texto, todo mundo ENCHE O SACO dizendo o quanto isso é difícil. Mas a gente prefere acreditar que na hora tudo vai dar certo. É ai, que vem o "choque de realidade" por que passei. Contudo, sou grato aos "chatos" que ficaram repetindo isso insistentemente antes da cirurgia, porque de alguma maneira essa informação estava internalizada em mim, e quando eu precisei usá-la, entendi instantaneamente o que eles queriam dizer. Entender isso também não tornará mais fácil essa mudança, mas me deixa muito mais preparado. Essa foi a minha escolha. Eu estava ciente das dificuldades, embora ainda não consciente. Daqui pra frente, espero que ter olhado aqueles números "145,3" tenha me dado um pouco dessa consciência. Do resto, vou deixar os dias passarem e vou aprendendo conforme vou caminhando. Passo a passo.
Até breve.
Léo Castro